A Câmara dos Deputados, a partir de sua Comissão de Ética, tem avançado contra o mandato de Glauber Braga (PSOL-RJ). Em um momento de esvaziamento da casa e do debate sobre as ações do parlamento devido às eleições, está em discussão a representação do NOVO/MBL que pede a cassação de um dos mais combativos e independentes deputados, por causa de sua reação às agressões de um influenciador digital do MBL.
Em sua defesa, Braga já havia se posicionado em suas redes sociais e informado aos parlamentares, inclusive ao relator do caso, que não se orgulhava de sua postura, mas que a reação se deveu à perseguição sistemática a ele e a seu grupo político, bem como aos xingamentos que o militante do MBL dirigiu à sua mãe, então doente e que veio a falecer pouco tempo depois. Em momento anterior, o relator, deputado Paulo Magalhães (PSD-BA), chegou a dizer a Glauber que ele agiu como deveria, como qualquer pessoa que honra sua mãe agiria. A posição mudou e não por uma avaliação sobre o caso em si, mas por uma perseguição deliberada contra Glauber Braga, orquestrada pelo presidente da Câmara, Arthur Lira.
A postura altiva e incisiva de Glauber Braga, que tem sistematicamente denunciado o gangsterismo de deputados de direita, incomoda aqueles que atuam contra os interesses das maiorias sociais de forma vil, enquanto buscam se apresentar como cumpridores das normas e dos ritos. Braga desafia o coro dos contentes com o sistema político e é por isso que querem calá-lo. Mesmo agora, a luta em defesa de seu mandato combativo escancara a postura omissa até mesmo de boa parte do campo progressista que não tem a mesma coragem de enfrentar Lira.
Além disso, sua cassação é também um recado para o Partido Socialismo e Liberdade (PSOL). O próprio andamento do processo no Conselho de Ética mostra isso. A mudança de entendimento do relator se deu na sequência da votação da cassação de Chiquinho Brazão, mandante do assassinato de nossa companheira Marielle Franco, no mesmo Conselho de Ética. Na lógica do corporativismo parlamentar que domina o espaço, o mandato de Glauber se tornou o “pedágio” para a cassação de Brazão. A perseguição é tão clara que, aliás, o relator Magalhães, que já disse votar contra Glauber, votou pela abstenção no caso do Brazão. O mesmo relator se negou a responder questionamento de Glauber se ele seria capaz de comprovar a isenção de seu voto, isto é, se seria capaz de afirmar que nunca tratou do assunto com ou teve seu relatório encomendado por Arthur Lira ou seus interlocutores.
A mudança na dinâmica da Comissão de Ética em relação a Glauber Braga, que em nada desonrou a atuação parlamentar, é clara. Somente nesta Legislatura, houve 28 representações arquivadas e apenas uma (a de Brazão) teve encaminhamento. Quando arquivadas, no máximo, aplicou-se a penalidade de censura verbal ou escrita. Isso aconteceu até mesmo no caso de parlamentares que atingiram a honra de outros membros do Legislativo, como a transfobia reiterada de Nikolas Ferreira (PL-MG) contra Erika Hilton e Duda Salabert e o escárnio performático de “Nikole”. Também aconteceu com Abílio Brunini (PL-MS), que impediu fisicamente a realização de uma audiência pública em solidariedade ao povo palestino em Gaza. E com o Da Cunha (PP-SP), que espancou e ameaçou de morte a ex-companheira. E assim vem sendo com as já normalizadas agressões misóginas e ameaças de Éder Mauro (PL-PA); os gritos, xingamentos e empurrões que Gilvan da Federal (PL-ES) dispara regularmente contra parlamentares, servidores e visitantes. Também em relação as agressões de Ricardo Salles (PL-SP) contra Sâmia Bonfim (MST) na CPI do MST.
Contra o circo armado para cassar Glauber Braga, levantam-se movimentos em todo o Brasil. O primeiro deles foi a solidariedade manifesta pela presença de militantes sindicais, em sua maioria da Educação, que pediam #GlauberFica durante a discussão no Conselho de Ética. Nos dias que se seguiram à reunião, cresceu o apoio a Glauber nas redes sociais. Há atos de rua marcados para esta semana em defesa de seu mandato, que é visto como um espaço de defesa do povo oprimido não só no Rio de Janeiro, estado que o elegeu duas vezes, mas por todo o Brasil.
Cabe ao PSOL, às esquerdas, sindicatos e movimentos sociais, grupos que os mesmos parlamentares que atacam Glauber buscam perseguir, jogar na ilegalidade e amedrontar com esse exemplo, que se levantem, que se organizem rapidamente e se defendam mutuamente. A Insurgência – Reconstrução Democrática se soma a tais manifestações, nas ruas e nas redes, afirmando: Fica, Glauber! Estamos com nosso camarada na luta em defesa de seu mandato e de transformações sociais profundas.
Nota da Insurgência Reconstrução Democrática